quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Combo do dia! (Horror Nacional)

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO (Brasil, 2008).
Direção: José Mojica Marins.
Com: José Mojica Marins, Jece Valadão, Milhem Cortaz, Adriano Stuart, Débora Muniz, Cléo de Páris, Nara Sakarê, Thaís Simi, Rui Rezende. 93min.
   A chamada 'retomada do cinema brasileiro' não alcançaria sua plenitude sem a participação de uma das figuras mais folclóricas e cultuadas da cinematografia nacional: Zé do Caixão. Eis que, em meados de 2006, a produtora Olhos de Cão, juntamente com algumas parceiras, angaria recursos significativos para que 'Coffin Joe' (nome pelo qual Zé do Caixão ficou conhecido mundialmente) ressurgisse nas telonas - embora o roteiro original tenha sido escrito em 1966 e após uma série de tentativas de filmagem frustradas.
   ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO (aparentemente) encerra a trilogia iniciada com os filmes À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA (1964) e ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER (1967), nos quais o soturno coveiro busca a mulher perfeita para gerar um filho seu. Aqui, a saga continua; e, amigos, as mulheres mais suculentas que vocês possam imaginar simpatizam com o demoníaco funerário - desde a culta cientista à linda descendente de ciganas. Sim, há nudez, sexo (Zé desmistificando a idéia de que a pipa do vovô não sobe mais), e, claro: sangue, muito sangue. Aliás, diga-se, é no quesito técnico que ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO mais se destaca: as sequências de horror e tortura, embora lancinantes - numa delas, por exemplo, vemos um indivíduo 'inserir' um piercing labial noutro -, são fotografadas de forma magistral; a versão sádica do purgatório, ciceroneada pelo personagem 'Mistificador' (interpretado pelo diretor de teatro José Celso Martinez Côrrea) dá um banho em muito espectro gosmento cabeludo; o figurino, por sua vez, é um luxo só: a vestimenta do coveiro, por exemplo, é constituída de peças do acervo pessoal do conceituado estilista paulista Alexandre Herchcovitch; mais: Mojica, indiscutivelmente, brilha como intérprete - aqui, porém, a única ressalva é o fato do artista expor, involuntariamente (creio eu), aquilo que (perdoem-me os fãs) chamo pejorativamente de 'lado MAGUILA de ser', bradando pérolas como: 'Coisas maldita!' Motivo de chacota por parte da trupe do Pânico na TV, os deslizes gramaticais de Mojica realmente não caem bem, a não ser que houvesse uma licença poética para Zé - no caso, não há, pois, conforme biografia do personagem JOSEFEL ZANATAS (reparem no anagrama para 'Satanás') disponibilizada no site oficial do filme, este nasceu em berço de ouro e teve uma boa educação na infância.   
   Ainda assim, não há como negar o talento de Mojica. A concepção de um dos personagens mais emblemáticos da história do cinema de horror surgiu de modo inusitado: Mojica teve um pesadelo no qual avistava uma figura sombria que, repentinamente, o agarrava pelo braço e o levava a uma cova cuja inscrição na lápide era o seu nome. Detalhe: o vulto era, na verdade, ele mesmo! (Isto lembra-me o bom filme australiano LAKE MUNGO...).  
   É reconfortante para nós, fãs do gênero fantástico, presenciar a ascensão de um personagem oriundo, digamos, de um delírio onírico, pois, assim, podemos também sonhar que, um dia, o terror nacional receba a atenção que merece.
   Em tempo: repleto de vídeos, curiosidades e opções para download, o site oficial do filme vale uma sacada: www.encarnacaododemonio.com.br.



AMOR SÓ DE MÃE (Brasil, 2002).
Direção: Dennison Ramalho.
Com: Everaldo Pontes, Débora Muniz, Vera Barreto Leite. 21min.
   A canção CORAÇÃO MATERNO - composta por Vicente Celestino e gravada em 1937 - narra a estória do simplório campônio que, às voltas com uma paixão arrebatadora, perde completamente a capacidade de discernimento e comete matricídio. Dito assim, a música poderia ser eventualmente vinculada a rituais satânicos ou coisas do tipo, dada a temática lúgubre.
   Pois bem: aproveitando uma possível associação, o diretor Dennison Ramalho - que coescreveu o roteiro de ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO - comete uma 'livre-perversão' (como mencionam os créditos finais do filme) da música supracitada, isto é, a letra de CORAÇÃO MATERNO é o arcabouço deste curta.
   Extremamente bem produzido, AMOR SÓ DE MÃE consegue reunir, num curto espaço de tempo, uma miríade de cenas chocantes; são exemplos delas: o sexo explícito e a pobre mãe sendo cruelmente espancada. O trabalho do escasso elenco é um show à parte; a despeito do patente conforto em desnudar-se - também, pudera: a atriz foi a musa das produções pornográficas brazucas da década de 80 -, Débora Muniz entrega uma atuação assustadora; Everaldo Pontes, por sua vez, brilha como o 'desajustado' matricida; mas, o destaque fica para Vera Barreto Leite (segundo o diretor, a velhinha teria mesmo apanhado no set): apesar da breve presença, a atriz, digamos, 'alarga o curta'.
   Vencedor de muitos prêmios em festivais mundo afora e causador de polêmica, AMOR SÓ DE MÃE talvez não tenha, como maior trunfo, a excelência de sua produção, e, sim, a capacidade de provocar, no espectador, a seguinte reflexão: com tanto pano pra manga (o misticismo e as múltiplas crenças religiosas, por exemplo), por que o Brasil não 'toca o Terror'?

2 comentários:

  1. O Brasil até que toca o terror. Porém, as obras quase não são levadas a um público considerável; como exemplo posso citar: a capital dos mortos,Blerghhh!! e Zombio. Quem tiver a chance, assista o muito bem criticado MANGUE NEGRO da London Filmes.

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  2. Sawyer, até que tentei arrumar o Mangue Negro para assistir. As críticas a respeito do filme são, em grande parte, positivas. Assim que o assistir, postarei a resenha. Continue comentando. Abraço!

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