sexta-feira, 29 de abril de 2011

Crítica do dia!

ALTA TENSÃO (Haute Tension, França, 2003).
Direção: Alexandre Aja.
Com: Cécile de France, Maïwenn Le Besco, Philippe Nahon. 85min.
   Primeiro: não confundir este ALTA TENSÃO com o homônimo de 1990 (cujo título original era Bird on a Wire), que trazia Mel Gibson e Goldie Hawn no elenco. Aqui, a tensão, se comparada à produção noventista supracitada, é muito maior. E talvez seja este o grande mérito do filme de Alexandre Aja: provocar, no espectador, uma sensação de desconforto constante - seja pela via gore (há sangue, tripas e afins em abundância) ou através do terror psicológico.
   Segundo: este ALTA TENSÃO merece ser visto simplesmente por apresentar uma sequência capaz de desbancar qualquer das mirabolantes cenas de morte da franquia PREMONIÇÃO. Só isto já vale o ingresso, claro, mas o filme tem vários outros atrativos. Entre eles, uma interessante cena de masturbação protagonizada por Cécile de France.
   Filmado em 36 dias e com um orçamento de 430 mil dólares, ALTA TENSÃO conta a história de duas moças que decidem passar o fim de semana na bucólica casa dos pais de uma delas. Lá, todos passam a ser atormentados por um brutal e impiedoso assassino. Roteiro simples; as soluções para o mesmo, no entanto, não o são. Prova disto é o epílogo disparatado que, infelizmente, põe toda a produção a perder. Se a idéia era - como em O SEXTO SENTIDO - fazer o espectador rever todo o filme, o tiro saiu pela culatra. Mais: o espectador mais atento facilmente verificará a presença de alguns paradoxos básicos no espaço-tempo - aqui, o princípio 'um corpo não pode ocupar lugares distintos ao mesmo tempo' é descaradamente burlado.
   Todavia, como já havia dito, ALTA TENSÃO merece, sim, ser visto. Talvez apenas pelos fãs do gênero. Se você não é fã, assista-o tendo em mente que, no final das contas, as coisas nem sempre saem do jeito que a gente quer.







terça-feira, 26 de abril de 2011

Crítica do dia!

O DESAPARECIMENTO DE ALICE CREED (The Disappearance of Alice Creed, Reino Unido, 2009).
Direção: J. Blakeson.
Com: Martin Compston, Eddie Marsan, Gemma Arterton. 95min.
   Poucos são os filmes que têm um elenco extremamente reduzido. Mesmo o hermético 127 HORAS, por exemplo, não tem a exagerada escassez de atores deste O DESAPARECIMENTO DE ALICE CREED. Não que isto seja demérito, claro. E, aqui, a 'pobreza' de elenco - são apenas três atores - certamente não é problema. E isto sem levar em conta (bom, eu levei...) que um dos intérpretes é a deliciosíssima Gemma Arterton. A moça, cujo talento pôde ser comprovado nos recentes FÚRIA DE TITÃS e PRÍNCIPE DA PÉRSIA: AS AREIAS DO TEMPO, responsabiliza-se por chamar a atenção dos marmanjos e elevar o nível de interesse (sem trocadilhos) destes pelo filme.
   Em O DESAPARECIMENTO..., vemos, logo no início, dois sequestradores executarem o rapto de uma jovem de família abastada. A partir daí, o que se segue é uma série de reviravoltas, nas quais as relações entre sequestradores e vítima são exploradas; há, porém, um pecado pelo excesso: as surpresas são tantas que, num dado momento, beiram a inverossimilhança. Todavia, algumas delas são bem bacanas - e provocam asco também (assista e entenderá).
   Ao final da projeção, o saldo é positivo: o roteiro criativo e a (quase) nudez de Gemma Arterton (cuecada em euforia!) compensam os deslizes do filme. Vale uma conferida.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Crítica do dia!

A INVASORA (À L'intérieur, França, 2007).
Direção: Alexandre Bustillo e Julien Maury.
Com: Alysson Paradis, Béatrice Dalle, Nathalie Roussel, Jean-Baptiste Tabourin.83 min.
   Não é de hoje que, digamos, há uma certa escassez de (boas) fitas de horror no mercado. Os filmes do gênero oriundos do cinema americano são, em grande parte, adaptações de produções européias/orientais. O processo, inclusive, parece estar seguindo o caminho inverso, considerando-se o recente ATIVIDADE PARANORMAL EM TÓQUIO.
   Não é de hoje também que, em termos de originalidade, a verve européia vem dando um banho (de sangue) nos ianques. E, neste, A INVASORA, bota sangue nisso. Aqui, Sarah (Alysson Paradis) é uma jovem fotógrafa prestes a parir o seu primeiro filho. Mas, na noite que antecede o parto, a moça é atormentada por uma misteriosa mulher (Béatrice Dalle). O mote é simples mesmo; aliás, o roteiro faz questão de ocultar informações sobre os seus personagens. Quando há necessidade de transmitir algo, as imagens responsabilizam-se pelo serviço: as expressões de Sarah são um indício da mesquinhez de sua vida; o gatinho preto é, como sabemos, prenúncio de mau agouro, e, o número da residência, 666, é um tanto cabalístico. As imagens, no entanto, não têm, como única função, delinear a história: algumas delas chocam pela violência extrema. Pra se ter uma idéia, mentalize uma angelical gestante sendo humilhada, açoitada e tendo sua barriga cortada (no sentido literal do verbo 'cortar'), por exemplo.
   A INVASORA é, sim, uma senhora carnificina - e muito bem executada, diga-se de passagem. Aqui, o aspecto técnico é de cair o queixo. Contudo, o filme funciona melhor nos seus 30 primeiros minutos, nos quais o terror psicológico prevalece. Nesta fração da fita, a dupla de diretores franceses lida com maestria com as percepções do espectador: ficamos num limbo entre o real e o quimérico. Seria a tal intrusa um simples (e psicótico) ser humano ou uma criatura demoníaca?
   Dúvidas à parte, o que se pode dizer é que, certamente, A INVASORA é para pessoas de estômago forte. Se você não se enquadra, não é recomendável assistir. Mas fique de olho nos realizadores do filme.
   Em tempo: Recentemente, foi lançada uma revista francesa com uma densa reportagem sobre o novo longa da dupla Bustillo/Maury. Promete.


domingo, 10 de abril de 2011

Crítica do dia!

BRUNA SURFISTINHA (Brasil, 2010).
Direção: Marcus Baldini.
Com: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Guta Ruiz, Cristina Lago, Fabíula Nascimento. 109min.
   Em meados de 2003, um picante blog britânico, chamado 'The intimate adventures of a call girl' (As íntimas aventuras de uma garota de programa), começou a despertar a curiosidade de centenas de internautas ingleses: o conteúdo da página, impróprio para menores, continha todas as peripécias sexuais da prostituta 'belle de jour', autora dos textos cujo nome de guerra consiste numa, digamos, homenagem ao célebre filme de 1967 de Luis Buñuel, no qual Catherine Deneuve interpretava uma jovem casada (e insatisfeita) e rica que, nas horas vagas, realizava os seus fetiches sexuais num discreto bordel. O cultuado blog rendeu à sua misteriosa autora publicações de livros e uma série de TV. Eis que, em meados de 2009, a identidade secreta de 'belle de jour' é revelada: tratava-se da (então) médica especialista em câncer infantil (acredite!) Brooke Magnanti que, por dificuldades pecuniárias, trabalhou por cerca de 14 meses no ramo da prostituição de luxo.
   Bruna Surfistinha é a 'belle de jour' tupiniquim. O filme, adaptado do livro 'O DOCE VENENO DO ESCORPIÃO' (que vendeu cerca de 300 mil cópias no país), conta a incursão de Raquel Pacheco, jovem de família abastada, no submundo (se é que se pode chamar assim) da prostituição. Não há, aqui, uma dedicação de tempo para porquês e justificativas prolixas: afinal de contas, por que alguém não pode simplesmente optar pela carreira do 'profissionalismo sexual'? Atores e atrizes pornôs que o digam. Só não digam, por favor, que trabalhar com sexo é um serviço como outro qualquer...
   Uma vez 'empregada' (repare na piadinha sobre os direitos trabalhistas), Raquel adota o codinome Bruna e, em pouco tempo, passa a destacar-se entre as suas colegas de profissão. E, como era de se esperar, algumas delas passam a ter inveja da insaciável novata - aqui, destaque para Fabíula Nascimento como Janine, a desbocada meretriz. Insensível às provocações e dificuldades, Bruna decide montar seu próprio negócio. E, amigos, a moça dá-nos uma verdadeira lição de empreendedorismo: livremente inspirada em 'belle de jour' (ou não, já que mentes distintas podem convergir para uma mesma idéia - Newton e Leibniz criaram o Cálculo independentemente, por exemplo), Bruna cria também o seu blog. Assim, em pouco tempo, a moça é alçada à posição de celebridade virtual: algumas empresas tentaram, inclusive, fazer propaganda de suas marcas no referido site. Neste ponto, porém, Raquel já não é mais a mesma: o processo de autodestruição, oriundo do pernicioso contato com drogas, sobrepõe-se às necessidades básicas vitais.
   Infelizmente, o roteiro, optando pela exposição excessiva da relação de Bruna com as drogas, acaba caindo num lugar-comum: a velha história do desmoronamento e reconstrução; haviam, pois, muitas outras nuances da personagem que poderiam ter sido exploradas (como, por exemplo, o seu envolvimento com Hudson - na vida real, João Correa de Moraes, homem casado que abandona a esposa e casa-se com Raquel).
   Longa de estréia do diretor Marcus Baldini, egresso do meio publicitário, BRUNA SURFISTINHA conta, ainda, com uma boa interpretação de Deborah Secco, perfeita para o papel: a atriz está para ninfetas/prostitutas - Íris (em Laços de Família), Darlene (em Celebridade), Betina (em Paraíso Tropical), etc. - assim como Schwarzenegger está para exterminadores.
   Com uma trilha sonora de primeira - que inclui Radiohead, The Zombies e The Flaming Stars -, BRUNA SURFISTINHA peca num quesito crucial: há uma certa ausência de propósito no roteiro. Mas, aqui, tal falha poderia ser proposital, um simples reflexo da postura da protagonista. Aliás, postura semelhante o espectador deve assumir: assista sem preocupar-se com causas e efeitos. Afinal de contas, cinema é entretenimento. E sexo (quase) sempre diverte.