domingo, 10 de abril de 2011

Crítica do dia!

BRUNA SURFISTINHA (Brasil, 2010).
Direção: Marcus Baldini.
Com: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Guta Ruiz, Cristina Lago, Fabíula Nascimento. 109min.
   Em meados de 2003, um picante blog britânico, chamado 'The intimate adventures of a call girl' (As íntimas aventuras de uma garota de programa), começou a despertar a curiosidade de centenas de internautas ingleses: o conteúdo da página, impróprio para menores, continha todas as peripécias sexuais da prostituta 'belle de jour', autora dos textos cujo nome de guerra consiste numa, digamos, homenagem ao célebre filme de 1967 de Luis Buñuel, no qual Catherine Deneuve interpretava uma jovem casada (e insatisfeita) e rica que, nas horas vagas, realizava os seus fetiches sexuais num discreto bordel. O cultuado blog rendeu à sua misteriosa autora publicações de livros e uma série de TV. Eis que, em meados de 2009, a identidade secreta de 'belle de jour' é revelada: tratava-se da (então) médica especialista em câncer infantil (acredite!) Brooke Magnanti que, por dificuldades pecuniárias, trabalhou por cerca de 14 meses no ramo da prostituição de luxo.
   Bruna Surfistinha é a 'belle de jour' tupiniquim. O filme, adaptado do livro 'O DOCE VENENO DO ESCORPIÃO' (que vendeu cerca de 300 mil cópias no país), conta a incursão de Raquel Pacheco, jovem de família abastada, no submundo (se é que se pode chamar assim) da prostituição. Não há, aqui, uma dedicação de tempo para porquês e justificativas prolixas: afinal de contas, por que alguém não pode simplesmente optar pela carreira do 'profissionalismo sexual'? Atores e atrizes pornôs que o digam. Só não digam, por favor, que trabalhar com sexo é um serviço como outro qualquer...
   Uma vez 'empregada' (repare na piadinha sobre os direitos trabalhistas), Raquel adota o codinome Bruna e, em pouco tempo, passa a destacar-se entre as suas colegas de profissão. E, como era de se esperar, algumas delas passam a ter inveja da insaciável novata - aqui, destaque para Fabíula Nascimento como Janine, a desbocada meretriz. Insensível às provocações e dificuldades, Bruna decide montar seu próprio negócio. E, amigos, a moça dá-nos uma verdadeira lição de empreendedorismo: livremente inspirada em 'belle de jour' (ou não, já que mentes distintas podem convergir para uma mesma idéia - Newton e Leibniz criaram o Cálculo independentemente, por exemplo), Bruna cria também o seu blog. Assim, em pouco tempo, a moça é alçada à posição de celebridade virtual: algumas empresas tentaram, inclusive, fazer propaganda de suas marcas no referido site. Neste ponto, porém, Raquel já não é mais a mesma: o processo de autodestruição, oriundo do pernicioso contato com drogas, sobrepõe-se às necessidades básicas vitais.
   Infelizmente, o roteiro, optando pela exposição excessiva da relação de Bruna com as drogas, acaba caindo num lugar-comum: a velha história do desmoronamento e reconstrução; haviam, pois, muitas outras nuances da personagem que poderiam ter sido exploradas (como, por exemplo, o seu envolvimento com Hudson - na vida real, João Correa de Moraes, homem casado que abandona a esposa e casa-se com Raquel).
   Longa de estréia do diretor Marcus Baldini, egresso do meio publicitário, BRUNA SURFISTINHA conta, ainda, com uma boa interpretação de Deborah Secco, perfeita para o papel: a atriz está para ninfetas/prostitutas - Íris (em Laços de Família), Darlene (em Celebridade), Betina (em Paraíso Tropical), etc. - assim como Schwarzenegger está para exterminadores.
   Com uma trilha sonora de primeira - que inclui Radiohead, The Zombies e The Flaming Stars -, BRUNA SURFISTINHA peca num quesito crucial: há uma certa ausência de propósito no roteiro. Mas, aqui, tal falha poderia ser proposital, um simples reflexo da postura da protagonista. Aliás, postura semelhante o espectador deve assumir: assista sem preocupar-se com causas e efeitos. Afinal de contas, cinema é entretenimento. E sexo (quase) sempre diverte.




Um comentário: