quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Crítica do dia!

O HOMEM DO FUTURO (Brasil, 2011).
Direção: Cláudio Torres.
Com: Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luísa Mendonça, Gabriel Braga Nunes, Fernando Ceylão. 103min.
   Dois óbvios motivos influenciavam-me a não ir ao cinema ver este O HOMEM DO FUTURO. Primeiro: tratava-se de um filme brasileiro que ousava mesclar gêneros cinematográficos aparentemente disjuntos -comédia romântica e ficção científica. Segundo: a trama era uma variante da clássica fórmula 'homem viaja no tempo e resolve consertar o passado; mas, claro, alguma coisa dá errado e o 'novo' futuro - oriundo da intervenção de outrora - já não é mais como era antigamente.' Mais: por falar em Legião Urbana, havia, também, um baile cujo clímax transcorria ao som do hino 'Tempo Perdido', musicaço da banda supracitada. E, claro, qualquer semelhança com DE VOLTA PARA O FUTURO seria apenas uma singela homenagem.
   Por outro lado, porém, haviam os motivos que instigavam-me a assistir o filme. Primeiro: as presenças de Wagner Moura e da bela Alinne Moraes. Segundo: a direção de Cláudio Torres - do bom A MULHER INVISÍVEL, que levou cerca de 2 milhões de espectadores às salas brazucas.
   Ironicamente, o tempo foi um fator decisivo. No dia em que fui ao cinema, a sessão que exibia O HOMEM DO FUTURO era a única que se adequava à minha disponibilidade de horários. E, para minha surpresa, o resultado final foi positivo. Aqui, Wagner Moura interpreta o físico João Nogueira (codinome: 'Zero'), um brilhante cientista prestes a descobrir uma revolucionária fonte de energia. Eis que, após um atrevido experimento, João viaja no tempo e vai parar no dia 22/11/1991. Neste dia, estreava nos cinemas a 30ª animação produzida pelos estúdios Walt Disney: o clássico A BELA E A FERA. Em terras tupiniquins, no entanto, uma outra improvável relação amorosa surgiria: o jovem João faria amor com a mais bela estudante da universidade - Helena, interpretada por Alinne Moraes. A moça, porém, faria o pobre rapaz passar pela maior humilhação de toda a sua vida. Assim, o 'João futurista' decide intervir em prol de si mesmo.
   Não há como negar: o tema é clichê. E os lugares-comuns fazem com que alguns momentos do filme sejam enfadonhos. Mais uma vez, o tempo foi um fator chave: gradualmente, as coisas são postas em seus devidos lugares. Segue-se, então, uma série de pequenas surpresas e cenas memoráveis - a já citada versão de 'Tempo Perdido' cantada no baile; o jovem João 'chapadaço' protagonizando sequências hilárias; Alinne Moraes de lingerie, entre outras. E, para fortalecer o visual, o ótimo apelo sonoro: aqui, as músicas, selecionadas a dedo, têm papel crucial - destaque para as presenças de RADIOHEAD, THE MARMALADE e SUA MÃE, a banda do ator Wagner Moura.
   Em entrevista, o diretor Cláudio Torres disse: 'Eu me interesso pelo insólito, porque, mesmo diante do fantástico, um homem não deixa de sofrer.' Na opinião do cineasta, o sofrimento é, portanto, parte do processo de crescimento pessoal - e esta crença reflete-se na opção por soluções não triviais para o filme. Como diria Sawyer: 'What´s done is done.'

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Crítica do dia!

O PLANETA DOS MACACOS - A Origem (The rise of the planet of the apes, EUA, 2011).
Direção: Rupert Wyatt.
Com: James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, Brian Cox, Tom Felton, Andy Serkis. 105min.
   Segundo a TEORIA DO DESIGN INTELIGENTE, os complexos mecanismos de funcionamento do Universo e a perfeição estrutural dos seres vivos só podem mesmo ser obra do chamado 'criador inteligente' - a teoria, tida como pseudociência, é vista como uma roupagem moderna para o Criacionismo. Assim, Deus existe e o espetáculo da natureza, entre outras coisas, seria uma prova de tal existência. O homem, com sua mania secular de grandeza, acredita ser o espécime ótimo da evolução, e, muitas vezes, ousa brincar de Deus, interferindo, por exemplo, nos intrincados processos ecológicos-naturais. Os resultados são, na maioria das vezes, catastróficos.
   O Cinema, em várias oportunidades, explorou as maléficas consequências da ação antrópica desvairada. Produções como OS PÁSSAROS, de Alfred Hitchcock, e o recente FIM DOS TEMPOS, de M. Night Shyamalan, estão fundamentadas na apresentação, por parte da natureza, de inimagináveis mecanismos de defesa. A franquia PLANETA DOS MACACOS, por sua vez, talvez cause um forte impacto pelo fato do bicho em questão ser exatamente o 'macaco' - em tempo: os chimpanzés, por exemplo, compartilham conosco cerca de 99% de seu DNA.
   No original, de 1968, os macacos são, de fato, a raça dominadora - os homens são, inclusive, utilizados como cobaias em pesquisas. Em O PLANETA DOS MACACOS - A Origem, é apresentada a possível causa da opressão simiesca: na esperança de encontrar a cura para doenças degenerativas cerebrais, o cientista Will Rodman (James Franco) idealiza o ALZ-112, substância atuante nos processos celulares do sistema nervoso. A droga, porém, é testada em chimpanzés e tem um surpreendente efeito colateral: os macacos aprimoram sua inteligência e suas habilidades cognitivas são maximizadas. Após um incidente, Will adota um filhote de chimpanzé que, em breve, receberá do pai enfermo do cientista (John Lithgow) o sugestivo sobrenome de um dos maiores generais do Império Romano: Caesar.
   Caesar é 'interpretado' por Andy Serkis - sim, o mesmo carinha responsável por Gollum, de O SENHOR DOS ANÉIS -, especialista em captura de performance por computação gráfica. E, como você já deve saber, Caesar, assim como todos os outros macacos que constam no filme, é de cair o queixo. As sequências 'macacada reunida' são visualmente empolgantes; mais: casam muito bem com o roteiro inteligente e bem escrito. A cena da ponte Golden Gate já é uma das melhores do ano.
   Se o ALZ-112 tem impacto positivo nos símios, nos humanos, por outro lado, tem efeito devastador - uma interessante sacada do roteiro que resulta numa cena após os créditos finais. O efeito da droga, contudo, é ferramenta indispensável para a intenção primordial do filme: centralizar a trama nos macacos. A escolha é certeira. Tanto que o elenco não-computadorizado, à exceção de John Lithgow e Tom Felton (ótimo no papel de 'carcereiro'), quase não merece destaque. A macacada faz e acontece.
   Caesar, ao liderar a 'revolução dos bichos', profetiza o desfecho lúgubre do reinado humano. Mas, como quem é rei nunca perde a majestade, outros dois filmes estão previstos. Nesse meio tempo, quem sabe o homem não aprende a respeitar um pouco mais a natureza?




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crítica do dia!

MATEMÁTICA DO AMOR (An Invisible Sign, EUA, 2010).
Direção: Marylin Agrelo.
Com: Jessica Alba, Chris Messina, Sonia Braga, J.K. Simmons, John Shea. 96min.
   A Matemática é, indubitavelmente, a rainha de todas as Ciências. Platão já dizia: 'Os números governam o mundo.'E, por incrível que pareça, é a mais pura verdade: desde a graduação de terremotos na conhecida escala Richter até à descoberta de novos planetas, a Matemática encontra-se presente.
   Como futuro matemático, um filme intitulado MATEMÁTICA DO AMOR certamente despertaria o meu interesse. E despertou - pelo menos nos primeiros quinze minutos de projeção, nos quais é exibida uma animação bacana com um mote soturno: num reino utópico, uma família é obrigada a 'ceder' um de seus integrantes como forma de solucionar a 'crise da falta de espaço'; o resto da fita é maçante e impreciso (e, como sabemos, imprecisão em Matemática é algo inadmissível).
   Em MATEMÁTICA DO AMOR, filme de estréia da diretora Marylin Agrelo (antes, a cineasta havia feito apenas o documentário 'Mad Hot Ballroom' - no Brasil: 'Vamos todos dançar'), Jessica Alba interpreta Mona Gray, uma jovem apaixonada pela Matemática que, diante do sério problema psiquiátrico do pai, decide, digamos, abdicar das coisas boas que a vida pode oferecer - a idéia da moça era aderir, de certa forma, à mítica tese defendida por Paulo coelho: 'Quando você quer muito algo, o Universo conspira a seu favor.'Pra se ter uma noção, a jovem passa, por exemplo, a comer sabonetes na esperança de que um dia seu pai restaure a sanidade mental. Não obstante, Mona ainda precisa lidar com as dificuldades do magistério: mesmo sem o diploma, a garota consegue o cargo de professora de Matemática de uma escola local. A utilização de inovadoras técnicas de ensino (a 'equação humana' e a didática dos sinais '>' e '<', por exemplo) resulta no disparatado apogeu da pseudotrama: a inexperiente docente tem a imbecil idéia de introduzir, em sala de aula, um afiadíssimo machado para simbolizar o número 7.
   A pedagogia da 'professorinha', notavelmente, provoca, no espectador, a mesma sensação que o filme, como um todo, produz neste: uma incômoda impressão de que a Matemática resume-se apenas às quatro operações aritméticas básicas. A Matemática é bela e, como tal, encanta. Mas, como diria o professor Manoel Paiva: 'A Matemática se revela em mentes sensíveis, capazes de ver uma espiral em um girassol, ângulos em uma estrela e Deus no infinito.'
   Baseado no livro 'An invisible sign of my own', de Aimee Bender, MATEMÁTICA DO AMOR, felizmente, conta com um bom elenco de apoio: Chris Messina (o 'Latino' americano - reparem na semelhança!) e a brasileira Sonia Braga são destaques. Nada, porém, que salve o filme do fiasco. O amor é confuso e contraditório; a Matemágica, por sua vez, não admite paradoxos.