domingo, 13 de fevereiro de 2011

Crítica do dia!

TEMPLE GRANDIN (Idem, 2010).
Direção: Mick Johnson.
Com: Claire Danes, Catherine O´Hara, Julia Ormond, David Strathairn, Charles Baker. 108 min.
   Geralmente, as histórias sobre pessoas bem-sucedidas em ambientes completamente desfavoráveis rendem bons filmes. Alguns deles, no entanto, acabam apelando para um sentimentalismo excessivo, o que acaba prejudicando o resultado final dos mesmos.
   TEMPLE GRANDIN é, digamos, a cinebiografia de uma mulher portadora de um distúrbio de desenvolvimento incurável: o AUTISMO. Aqui, porém, não há espaço para melancolia gratuita: se o espectador vier a chorar, será de alegria - e não por comoção. Em TEMPLE GRANDIN, ocorre algo, no mínimo, incomum: mesmo não intentando propor uma mensagem edificante, o filme acaba por fazê-lo. E esta característica peculiar resulta, provavelmente, do potencial biográfico da personagem-título.
   Diagnosticada como portadora de Autismo por volta dos 4 anos de idade, Temple recebe da mãe (Julia Ormond, ótima) emocionalmente abalada todo o carinho e apoio que esta pode oferecer - na época, muitas das especulações acerca da etiologia do Autismo fundamentavam-se nos estudos do psiquiatra americano Leo Kanner, segundo o qual, o distúrbio originava-se do desinteresse dos pais (da mãe, particularmente) nas relações afetivas da criança. Assim, Temple é encaminhada para um colégio rural, no qual estabelece uma forte relação com um dos professores (David Strathairn, competente como sempre). Aqui, a garota desenvolve todas as suas habilidades latentes e revela-se um fabuloso prodígio.
   Repleto de mensagens subliminares (a questão da mulher, por exemplo, que trabalha em ambientes essencialmente masculinos), o filme, em momento algum, desvia-se do foco principal: expor com ternura, exatidão e bom humor (é inspiradora a forma sagaz como Temple lida com sua condição), a história de sua personagem.
   Com um elenco de apoio de primeira, TEMPLE GRANDIN conta, ainda, com uma espetacular atuação de Claire Danes - merecedora de uma indicação ao OSCAR; na verdade, a atriz só não foi indicada porque este filme foi feito exclusivamente para a TV (para o canal HBO, mais precisamente). Quando perguntada sobre a performance de Claire, em entrevista concedida no tapete vermelho da cerimônia do recente Globo de Ouro (na qual Danes foi premiada como melhor atriz em minissérie ou telefilme), a própria Temple Grandin disse: 'She became me.'
   Uma personagem memorável com uma bela história de vida interpretada por uma atriz inspiradíssima. Resultado: um filmaço.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Crítica do dia!

PARQUE DO DIABO (Devil´s Playground, Inglaterra, 2010).
Direção: Mark McQueen.
Com: Craig Fairbrass, Craig Conway, MyAnna Buring, Lisa McAllister, Danny Dyer, Jaime Murray. 93 min.
   George Romero é, digamos, 'o pai dos filmes de mortos-vivos'. Sob sua batuta, a temática zumbi ganhou, entre outras coisas, um interessante poder metafórico: em algumas de suas produções, por exemplo, o cultuado cineasta criticava, através de sutis alegorias, o supérfluo consumismo americano. Com o sucesso das fitas de Romero, os mortos-vivos tornaram-se uma constante no cinema de Horror, e, atualmente, as grotescas criaturas estão presentes nos diversos tipos de mídia: das HQS à TV - o bom seriado THE WALKING DEAD, por exemplo, é adaptado da graphic novel de Robert Kirkman.
   De um modo geral, pode-se dizer que os zumbis têm um aspecto comum: a locomoção em banho-maria. Atualmente, no entanto, algumas produções optaram por subverter o gênero e resolveram dar um pouco de mais de vitalidade aos 'comedores de cérebros'. Em algumas situações, funcionou muito bem: é o caso, por exemplo, da bacaníssima cena de ZUMBILÂNDIA na qual um gordinho foge desesperadamente de um morto-vivo.
   Embora neste PARQUE DO DIABO as aberrações não sejam zumbis (tecnicamente falando), a revolução chegou ao extremo: algumas das criaturas são verdadeiros ninjas. E, pra um filme que se leva a sério (até demais, diga-se de passagem), mortos-vivos experts em PARKOUR não caem bem. Em tempo: o Parkour é uma modalidade de atividade física que exige do praticante habilidade e destreza descomunais - digite 'Parkour' no You Tube, veja alguns vídeos e entenderá.
   PARQUE DO DIABO desenvolve-se segundo a óbvia premissa do medicamento que produz em seus usuários graves efeitos colaterais; apenas um, dentre os 30000 integrantes do programa de testes do RAK-295, não exibe os sintomas. Daí, a empresa idealizadora do tal remédio designa seu chefe de segurança para a seguinte missão: encontrar o usuário imune.
   Insistindo em lançar dramaticidade sobre os seus personagens, PARQUE DO DIABO acaba apelando para enfadonhas sequências sentimentalóides (a discussão no carro sobre um acidente envolvendo um ex-policial e um adolescente, por exemplo). Mas, pra falar a verdade, o filme todo é maçante. Não há sequer uma cena digna de nota. Portanto, não assista. Nem mesmo se você não tiver outra opção. Aliás, uma boa opção é ver os vídeos de Parkour no You Tube...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Crítica do dia!

LUNAR (Moon, Inglaterra, 2009).
Direção: Duncan Jones.
Com: Sam Rockwell, Kevin Spacey (dublagem do computador GERTY), Dominique McElligott, Rosie Shaw. 97 min.
   A ficção científica talvez seja o gênero cinematográfico mais profícuo em relação ao estímulo à reflexão. Filmes como DISTRITO 9, por exemplo, geram uma série de questionamentos e incitam discussões sobre os mais variados assuntos; algumas delas um tanto profundas.
   Embora desprovido de sequências adrenalinescas como as presentes na produção supracitada, LUNAR é um arquétipo dos chamados 'filmes-cabeça'. Mais: aqui, a ficção confunde-se com a realidade, dada a estreita relação entre a trama e diversas temáticas contemporâneas.
   Sam Bell (Sam Rockwell) é o operador da base de mineração lunar Sarang - que, em coreano, significa amor. Sua tarefa primordial é a seguinte: coletar e enviar à Terra amostras de Hélio-3, um raríssimo elemento químico e peça-chave para a solução da crise energética terrestre - há, aqui, todo um embasamento científico: o Hélio-3 é um subproduto das reações nucleares ocorridas no Sol; as partículas solares, ao colidirem com a superfície lunar, depositam-se na mesma (como comprovação, alguns integrantes das missões do Projeto APOLLO trouxeram para a Terra rochas espaciais); contendo uma grande quantidade de energia solar acumulada, o Hélio-3 seria a saída ecologicamente correta para o problema do Aquecimento Global, por exemplo. Pra se ter uma idéia, segundo estimativas, o solo lunar poderia abastecer a Terra durante 100 séculos. Há três anos na Lua, Sam está prestes a encerrar seu contrato de trabalho e retornar à Terra. Mas, obviamente, as coisas não serão tão simples assim.
   LUNAR é o tipo de filme do qual quanto menos se falar, melhor. O roteiro, co-escrito pelo diretor estreante Duncan Jones (filho de David Bowie), proporciona um desenvolvimento gradativo, e, a cada cinco minutos, uma nova surpresa emerge na tela. O que não é surpresa, porém, é o talento de Sam Rockwell: costumeiro 'ladrão de cenas' (o cara está impagável, por exemplo, em À ESPERA DE UM MILAGRE), o ator já merecia, como protagonista, uma produção desta categoria em seu currículo.
   Com um modesto orçamento de 5 milhões de dólares, LUNAR, ainda assim, não decepciona no quesito 'efeitos especiais': beneficiadas pelo hodierno barateamento de custos com computação gráfica, as sequências em solo lunar são muito bacanas. E, caso não fossem, não faria muita diferença: a essência do filme reside em sua idéia, original e muito bem executada. Imperdível.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Crítica do dia!

DEIXA ELA ENTRAR (Låt den rätte komma in, Suécia, 2007).
Direção: Tomas Alfredson.
Com: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar, Henrik Dahl, Karin Bergquist, Peter Carlberg. 115min.
   Durante uma entrevista, o diretor Tomas Alfredson disse: 'Fazer Cinema é muito sobre não mostrar as coisas na tela.' Neste DEIXA ELA ENTRAR, o cineasta mostra-se fiel à sua ideologia; que fique bem claro: isto não é, de forma alguma, algo depreciativo. Muito pelo contrário. Ao optar pelo caminho artístico, DEIXA ELA ENTRAR torna-se um filme de Horror não convencional; o exotismo, por assim dizer, permeia toda a obra. O maior indício disto é, obviamente, o roteiro - elaborado por John Ajvide Lindqvist, autor do livro homônimo (publicado em 2004) do qual o filme é adaptado -, que, por sua vez, trata, de modo peculiar (e não menos sombrio), a temática vampiresca.
   Em DEIXA ELA ENTRAR, acompanhamos o florescer de uma inusitada relação romântica entre o garoto OSKAR e a vampira ELI. O menino é vítima de bullying na escola e não faz idéia de como lidar com a situação - exceto pelas encenações de possíveis retaliações; ela, por sua vez, não hesita em assassinar - isto quando o seu (digamos) vassalo falha no cumprimento de suas obrigações.
   À primeira vista, o mote pode parecer habitual. Não é. Tal constatação resulta do seguinte: DEIXA ELA ENTRAR não apela para explicações fáceis. Tome o pai de Oskar, por exemplo. Você pode indagar: 'Qual a contribuição das cenas entre pai e filho para a trama principal?' Não será fácil responder à pergunta acima, mas, acredite, a resposta está lá. Mais: o próprio título do filme é enigmático. Contudo, por não ser nenhum SPOILER, explico: há controvérsias, mas, segundo as lendas, a casa de um indivíduo é protegida por seu anjo da guarda; vampiro algum tem poder para derrotar um anjo. Assim, se alguém convida um vampiro para adentrar em sua residência, utilizando, portanto, seu livre arbítrio, as divinas criaturas não poderiam intervir.
   Fantasias à parte, é possível identificar, ainda, situações cotidianas rotineiras (o que acarreta uma vinculação do filme com a realidade - algo sempre positivo em produções de terror): a auto-confiança de Oskar para vingar-se de seus opressores é, por exemplo, consequência imediata do relacionamento com Eli (afinal de contas, quem não se sente o dono do mundo quando está apaixonado? Leonardo DiCaprio que o diga...).
   Apesar da nítida preocupação com a parte dramática, DEIXA ELA ENTRAR não economiza no sangue quando o momento é oportuno; há, pelo menos, duas sequências memoráveis: a queda do corpo do sétimo andar do hospital (simples, mas muito bem filmada) e o desfecho, perturbador e sangrento.