sábado, 22 de dezembro de 2012

Crítica do dia!

O HOBBIT - UMA JORNADA INESPERADA
(The Hobbit: An Unexpected Journey, Nova Zelândia/EUA, 2012).
Direção: Peter Jackson.
Com: Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, James Nesbitt, Cate Blanchett, Hugo Weaving, Andy Serkis. 169 min.
   Quando fui ao cinema para ver O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, eu nada sabia acerca do universo mitológico criado por J.R.R. Tolkien. Saí da sala completamente extasiado e com a certeza de que havia visto um dos melhores filmes de toda a minha vida. Algum tempo depois, adquiri os livros e o DVD do filme - que foi visto e revisto dezenas de vezes. Mas, cerca de dez anos após esses acontecimentos, filmes e mais filmes na bagagem, admito que optei por não criar expectativa alguma em relação a este O HOBBIT - até mesmo porque eu já havia me decepcionado bastante com O Senhor dos Anéis - As Duas Torres. Assim, fui ao cinema na esperança de ver apenas um bom filme. E foi o que vi. Nada mais.
   O HOBBIT é uma adaptação do livro homônimo de 1937, cujo texto tinha, como público-alvo principal, crianças e adolescentes. Aqui, não há toda aquela atmosfera soturna que permeia a trilogia do anel. Para compensar, existem similaridades argumentativas: forma-se uma comitiva, constituída por 13 anões, um Hobbit (Bilbo Bolseiro, no caso) e o mago Gandalf, cujo objetivo é resgatar o reino de Erebor, tomado pela mais apavorante das criaturas da Terra-Média: o dragão Smaug. Ao contrário das críticas, as cenas iniciais, nas quais são apresentados os anões e sua educação classuda, de forma alguma arrastam-se pela tela. As referidas sequências são divertidíssimas, evidenciando a afinidade entre os integrantes do elenco e, em particular, destacando o excelente timing cômico do ator inglês Martin Freeman, extremamente à vontade ao assumir o papel outrora interpretado pelo também inglês Ian Holm. Alguns fãs até fizeram campanha para que o astro de O Guia do Mochileiro das Galáxias participasse da produção. O trabalho de Freeman só não é o melhor do filme porque o Gollum de Andy Serkis é insuperável. O personagem, por si só, já é fascinante; a técnica e o esmero de Serkis, contudo, potencializam a presença do mesmo. A sequência do jogo de charadas encabeçada por Bilbo e a criatura é genial - um exemplo de como um texto bem escrito pode sobrecarregar de dramaticidade uma cena simplista, na qual a computação gráfica é um recurso usado na medida certa, sem arrojo, para fins de humanização de um personagem.
   As semelhanças com a saga do anel não se restringem apenas ao roteiro. No que diz respeito aos quesitos técnicos, a fotografia, com seus planos abertos cobrindo, a longa distância, o trânsito da comitiva, é facilmente reconhecível; a trilha sonora de Howard Shore, por sua vez, revisita temas consagrados - uma escolha acertada, diga-se.
   Ao abordar apenas 6 dos 19 capítulos do material original neste primeiro filme (serão três, no total), Peter Jackson procede de forma contrária àquilo que foi executado no início do presente século: a epopéia do anel consiste em cerca de 1600 páginas, ao passo que O HOBBIT é uma espécie de pocket book com pouco mais de trezentas. Assim, o que se fez foi ´esticar` uma estória, e, como resultado, temos a infeliz presença de sequências completamente desnecessárias - a cura de um pequeno bichinho perpetrada pelo destrambelhado mago Radagast, por exemplo. O tempo de projeção de O HOBBIT foi, inclusive, alvo de críticas bastante criativas. Chegou-se a sugerir o lançamento da ´versão condensada do diretor` em Blu-Ray, em oposição à popular ´versão estendida`. Talvez a prolixidade do filme seja justificada pela intenção óbvia de se estabelecer uma conexão com o que já foi feito: as ´pontas` de vários personagens que, à época da feitura de O HOBBIT, possivelmente eram apenas idéias na cabeça de Tolkien, corroboram tal hipótese.
   A despeito dos comentários sobre a duração do filme, boa parte das críticas estão centradas na tecnologia de filmagem e exibição - o HFR (High Frame Rate), em que são mostrados em tela 48 quadros por segundo, ao invés dos tradicionais 24. Muitos espectadores reclamaram da sensação de aceleração das sequências. O fato é que, por ser uma inovação, digamos, em estágio inicial de desenvolvimento, o HFR não deve ser o alvo-mor dos ataques por parte da comunidade cinematográfica. A verdade é que O HOBBIT é um filme visualmente belíssimo e, no entanto, desprovido de algum significado maior.

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