quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Crítica do dia!

AS AVENTURAS DE PI (The Life of Pi, EUA, 2012).
Direção: Ang Lee.
Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Rafe Spall, Gérard Depardieu. 127min.
   O livro Max e os Felinos, do autor brasileiro Moacyr Scliar, narra a saga de um judeu que, às voltas com os terrores da Segunda Guerra Mundial, embarca num cargueiro alemão rumo ao Brasil. No trajeto, o navio naufraga e Max é obrigado a dividir o pequeno espaço de um bote salva-vidas com um jaguar - que também estava no cargueiro, juntamente com outros animais de um circo. Há, aqui, uma alegoria que emula as relações entre o povo brasileiro e o Regime Militar, uma vez que o texto foi escrito à época da ditadura. O canadense Yann Martel, aproveitando-se do mote criado pelo escritor brazuca, redigiu o premiado ´A Vida de Pi` - Moacyr tomou conhecimento do plágio por intermédio de um artigo do jornal britânico The Guardian. Há, claro, uma diferença aqui e ali, mas a trama é, essencialmente, a mesma - na iminência de uma crise financeira, a família de Piscine Molitor Patel decide mudar-se, a bordo de um cargueiro japonês, da Índia para o Canadá, levando consigo o negócio que garantia a subsistência do clã: um zoológico com uma variedade ímpar de bichos. É claro que o navio nipônico afunda e Pi, assim como Max, terá de compartilhar o diminuto território de um bote com quatro animais selvagens - uma zebra, um orangotango, uma hiena e o deslumbrante tigre-de-bengala Richard Parker.
   O visual deste AS AVENTURAS DE PI é impecável. Apesar de boa parte das cenas marítimas terem sido rodadas em estúdio, o 3D utilizado pela equipe técnica é de uma eficiência irretocável. A sequência do naufrágio é intensa e chocante - repare, em especial, no momento em que Pi assiste, em meio a um quase afogamento, à submersão do Tsimtsum. Aqui, os efeitos especiais não são gratuitos - até o espetacular salto de uma baleia tem algum impacto sobre o enredo. O ápice digital, porém, é alcançado na construção de Richard Parker - inacreditavelmente real, o tigre é resultado de um trabalho da Rhythm and Hues Studios, empresa responsável também pelos efeitos de X-Men - Primeira Classe e Branca de Neve e o Caçador.
   A escolha do elenco foi acertadíssima. Suraj Sharma (Pi) suporta com méritos a responsabilidade da atuação solitária. Tabu, uma estrela da Bollywood - a indústria cinematográfica indiana -, exibe amabilidade e elegância no papel da matriarca da família Patel. Até a abrupta sacada de Tobey Maguire da equipe de atores e a escolha de seu substituto para a interpretação do escritor canadense que entrevista o Pi adulto, foram, de certo modo, benéficas à produção.
   AS AVENTURAS DE PI é um daqueles filmes que permitem inúmeras interpretações. A multiplicidade de crenças do personagem principal, por exemplo, pode ser vista como um vislumbre da possibilidade de religiões díspares conviverem em harmonia. Santosh Patel, o pai de Pi, ao defender que a fé cega e desenfreada é reflexo da ignorância, reforça a idéia de que Ciência e Religião podem, também, coabitar em concórdia. A saga de Pi é uma metáfora para as dificuldades da vida - na qual, infelizmente, todos nós estamos sujeitos a tragédias e infortúnios.

 
 

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